segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O Livro da Fome

Dizem os cristãos que Deus é amor, que o amor provém de Deus. Mesmo se eu fôsse cristão eu não pensaria assim. O amor provém do Diabo. Deus é tudo aquilo que nos afasta do amor, tudo aquilo que nos dá razão pura e simples, que nos liberta do tormento da existência no mundo dos sentimentos.

É fácil entender como os cristãos cometeram esse erro. Eles inventaram um conceito para o amor, um conceito para substituir o amor. Ágape, o amor de Deus, o amor sem carne, o amor sem interesse. Algo que não existe, mas que a ilusão é bem capaz de criar, e algo benigno para os que são capazes de acreditar em ilusões. Infelizmente, se eu acreditasse no cristianismo, eu pertenceria ao Diabo. Não por escolha. Mas porque não tenho imunidade contra o amor. Ele vem e faz de mim o que bem entende, me mói, me destrói, me separa de mim mesmo e de tudo que é saudável. Se eu pudesse escolher, viveria para sempre sem amor... Nunca o teria sentido, nunca o teria tido, nunca teria pertencido a ele...

Dizem os pagãos que não há amor sem morte, não há prazer sem sacrifício. A vida é uma dura montanha russa de prazer e de dor, e temos que afirmar a vida. Sim, é muito mais fácil ser cristão, muito mais confortável para a consciência. Mas eu não sou cristão. Não acredito nem em Deus nem no Diabo, a não ser como metáforas para alguma imprecisa poesia antiga. Já a vida... a dor, o prazer, a fome... quem está livre destas coisas?

Um comentário:

Iseult disse...

é como se eu ja soubesse de tudo... como se nada disso fosse novo... como se eu mesma tivesse escrito... como se tudo ja fizesse parte de mim ha muito tempo...

sinto...