sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Fome

Uma luz divina invade meu quarto, vinda de um céu de prata de toneladas de gelo suspensas pelos ares. Eu tenho fome de luzes. Lembro-me de raios que vi há muitos anos, de como me tocaram, de como eu cri neles como em ninguém mais. Tempestades, e eu sempre atrás da janela, um par de olhos estarrecidos, apaixonados, cúmplices.

O mundo sempre empresta as cores dos meus sonhos. Sou o meteorologista perfeito, aquele que se comunica com os espíritos da chuva e do vento. Hoje o mundo cobre-se no manto branco do meu devir corujinha-sapo. Há um calor polar, um lançar-de-sonda-para-as-profundezas-do-ser. Nada busco. Apenas aprecio as paisagens. Certezas são mais do que desejo. Estou aprendendo a viver na segurança da imprevisibilidade.

Tenho fome de amor. A voz dela caminha por dentro de meu ser, suas palavras cheias de calor, que alimentam cada vaso sanguíneo, cada artéria, cada veia. Meus músculos, carregados de sua sutileza, só desejam os menores gestos. Os ventos dançam entre nós. Ouço o murmúrio de seu silêncio nas danças dos ventos. Sou dela o reflexo, o idêntico, o ritmo de menino, mas ela diz o contrário, que ela é meu reflexo. Ela é perfeita. O reflexo se confunde com a imagem, ambos voltam a ser um só.

Nenhum comentário: