sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Talaith

Cidades reluzentes sob o espectro do Sol. Uma colcha de linhas retas que com sua violência de agulhas costura o corpo da terra, que a terra exibe como uma roupa tatuada. Dentro das linhas cada partícula é uma possível rota de fuga. E o sangue esmagado e a gaivota.

Estas linhas de escrita que se fazem no espaço hermético-erótico entre a minha pequena dor e o insuportável e aterrador êxtase cósmico de amor e morte servem apenas para propagar-me com segurança no tempo público. São diademas líricos que coroam deusas evanescentes, corpos dispersos pela ganância cronológica, e isso me pede uma reatualização de meu espaço íntimo, exposto pela putrefação social ao ar impuro.

Um espaço íntimo impulsionado por uma imagem intensa. Preciso de um incêndio lento agora. Eternizar o momento em que a mariposa se propaga em seu novo mundo Tudo muito devagar... e talvez a cidade seja capaz de ver que por amor invadimos as casas dos que não têm casas e com amor somos recebidos.

Cidades nojentas e empoeiradas onde rastejamos, cheios de luz. Um exército de almas. Larvas. Talvez a cidade seja o sacrifício necessário para que o novo ser nasça, para que venham os novos sons, os novos sopros. Como forças maiores, que a superfície que resiste por algum tempo sempre breve o suficiente, deixa eclodir.

Diademas reluzentes que rasgam-nos a pele.

Nenhum comentário: