Eu não sou uma coisa que flutua. Rastejo muito abaixo destes pensamentos que são como correnteza fria que me acalma. Conheço as pedras cheias de limo, a barriga interior. A eletricidade, o sonho do fundo do rio – docemente passeia por mim um desejo de sucumbir tão confortável e leve, todos os anjos das águas cantando canções serenas, me levando em uma carroça de escamas de ouro, longe das lágrimas, debaixo dum croio...
Definitivamente não desejo ser um animal que voa. Adoro o peso, o retorno ao chão escuro, o encontro de caminhos trançados como runas, enquanto passeio, tonto, por toda esta paixão, todo esse desespero.
Não me desespero por medo, mas por prazer. Poesia que alimenta o veneno.
Desejo este desespero, talvez sem ele eu não conseguiria viver. Talvez sem ele eu seria como essas pessoas que sempre atribuem toda culpa a si mesmas, todos os pesos do mundo sobre seus próprios ombros para terem o orgulho dos gestos martirizados dos ícones. Não desejo a linguagem comum, o inesperado é que me fascina. O que não deveria estar ali é que me convence de sua grandeza. O Nada-Casual.
Por isso amo este mundo e não todos os paraísos etéreos onde deveríamos estar tocando bombarda com os anjos. É como estar sempre doente a vida, sempre com alguma febre, e se eu tropeço no destino como um bêbado o faria, é provável que eu deva ser um bêbado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário