Enquanto me sento e ouço os mistérios sem significado algum para mim em um templo construído por mãos humanas onde só entro porque minha Dama das Águas resplandesce sobre o altar em uma imagem carnal, o mundo lá fora prossegue com seus frutos da estação como um tarado. Há fogo por todos os lados e as labaredas consomem todos os traços de meu antigo ser.
Eu não amo a humanidade, amo indivíduos. Não há nada que eu despreze mais que um coro de vozes que diz: “ROGAI POR NÓS” e no entanto aqui estou eu. As pessoas são corpos que o amor atravessa e no delírio obscuro da igreja as intensidades carnais se tornam mais fortes. Os sacrifícios das vozes cobrem o silêncio de rendas brancas, debaixo delas porém, o sangue ainda é vermelho.
O sangue ainda é vermelho nas veias. Se os pensamentos da mente fazem uma mortalha evanescente ao redor do corpo, assustando o ente que vive na torre, o próprio corpo é que responde com seu aterrorizante amor, ameaçando a própria morte de que ele é feito. Esse pensamento depende de veios. Sangue arterial e sangue venal. Inspiração e expiração. Não pares de opostos. Sinônimos sincrônicos e simétricos. Transfiguração e expiação.
Às vezes da ponta da caneta brota um excitante instrumento de percussão. E as letras que se inscrevem cada qual tem seu ritmo único. Penso que quem tem seu ritmo tem tudo. Uma larga parcela de si mesmo dividida e uma morte generosa.
A Luz é generosa!
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