Sabedoria das árvores. Na natureza prevalece a sensação da vida, do excesso de vida, e a percepção da divindade imanente desse exagero, desse verdadeiro desperdício, tal divindade é facilmente apagada quando se é obrigado a viver numa grande cidade. Perto de uma floresta o silêncio é solene e sagrado. O próprio silêncio é carregado. Mas viver onde predomina apenas uma espécie, ainda uma espécie grotesca como a humana, deprime e leva por fim ao desejo de negar tudo. No meio disso tudo, nada mais detestável que essa espécie de ateísmo socialista que é moda dos burgueses e dos artistas. Na verdade estão distanciados da natureza a tal ponto que seus próprios pensamentos deixaram de servir a seus sentidos, e sua vida enfraquece por falta de contato com a substância da vida. Precisariam de um necessariamente desagradável mergulho em um mundo infestado de insetos e de plantas, o que para suas almas seria como um estupro, um mundo filosoficamente infestado de toda sorte de vida que rasteja e cresce, e tenta se sobrepor às outras com todas as suar artimanhas. Isso para terem uma idéia breve do que é verdadeiramente divino e divindade. Para experimentar o divino é preciso se abrir em uma igualmente descomunal quantidade de sentidos tal qual a vida que há em uma floresta. É preciso se esquecer, saber morrer, ou ainda, matar. Matar com sinuosa maestria, como a serpente ou o escorpião.
Estar perto dos sentidos, isso me é o mais caro. E que meus pensamentos tenham o único sentido de melhor me fazerem gozar meus sentidos, isso para mim é a coisa mais cara de todas. Não quero nada que me desvie dessas realidades sagradas, as mais sagradas de todas. Não desejo servir a nenhum ego nem buscar nenhum desfecho heróico para minha história. Desejo me aniquilar em galáxias de sentidos.
O que realmente importa passa desapercebido aos olhos da multidão, mas aquele que amou ficar sozinho com a natureza sabe ver.
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
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