Folksongs. Bob Dylan escreveu em suas Crônicas que as canções folk eram como uma religião para ele. É exatamente assim que me sinto. As canções repõe o que me é retirado por viver afastado da natureza, elas são minhas plantas, meus pássaros, minha água e meu ar puro. Tem sido por muitos anos e continuarão a ser. As canções folk são eternas, não há nada de descartável nelas. Estão impregnadas da vida na natureza, e para cantá-las é necessário um longo sacrifício. É necessário fazer-se sagrado, pois a experiência de alguém transparece em sua voz. E uma canção folk não soa bem em qualquer voz, é preciso tornar-se velho, tão velho como elas. Só através do sacrifício se pode lográ-lo. Quando se entra no espírito da tradição, é possível tornar-se como uma árvore centenária. É possível ser como a relva que sempre nasce e floresce de novo e de novo. Ao longo dos anos eu tenho visto essas canções soprarem no rosto das pessoas com cheiro de florestas e tenho visto a maneira como as pessoas sorvem essas canções, o prazer que lhes trazem. Percebo que são mágicas, pois trazem lugares e épocas, trazem vida. São canções muito vivas, que sobreviveram ao desaparecimento e à obliteração dos séculos. Eu sou um ser possuído por essas canções.
Uma canção é como uma pintura. A pintura e a canção a meu ver são as mais eróticas das artes. Uma canção se assemelha a uma pintura quando é grandiosa.
Vivi muito tempo perto da natureza e muito tempo longe. Se não fôssem as canções folk teria perdido o elo místico com a natureza, pois a cidade nos torna ateus. Teria me matado, pois sou fervorosamente religioso, preciso de fé absoluta. Preciso dela para não me diluir no mundo dos macacos. A cidade oferece pouco em vida, é preciso ser a vida em oferta infinita, em quantidade infinita. A cidade rouba muito. Não desejo ser um homem, nasci muito pequeno para ser um mero homem. Não desejo nada como os outros desejam, e busco desaparecer em uma canção, da mesa forma que busco desaparecer quando faço amor, deixando existir apenas o ritmo eterno, a essência da vida. Essa é minha religião e minha fé absoluta na arte, e sem a arte eu estaria morto. A arte nos devolve a liberdade de essência.
Na natureza como na arte é impossível ser ateu ou crer em um só deus.
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