O prazer de escrever é o prazer de tocar a infinitude com mãos bem reais. Tocá-la, provocá-la, despertá-la. É o prazer daqueles que foram feitos para amar os deuses sexualmente.
Bem poucos foram tocados da forma que eu fuitocado em sonhos. Que deusas e que deuses se entregaram a mim em sonhos! Escrever, sentir a caneta deslisando pelo papel famigeradamente, me devolve o prazer impossível das carícias do infinito. É como se tudo se tornasse em uma longa e deliciosa foda – núvens rolando pelo céu umas sobre as outras, produzindo trovões e relâmpagos, entregues ao vento. Sinto-as dentro de meu rosto, dentro de meu peito, minhas mãos e meus braços passam a imitar seus movimentos. Me estico e meu corpo é desfeito, minha mente segue apenas os ritmos de fluxo e refluxo das marés.
Demoro a me entregar ao sono. Escrevo algo sensual, mas o que é sensual mesmo é escrever. As letras secom sobre o papel como beijos, como lambidas, como se os atos de amor ficassem tatuados na pele amante, receptiva, do eterno, do infinito, do vazio que implora por ser preenchido. O movimento das letras cria a forma dos meus desejos. Seu cheiro azul me prova que a divindade goza entre os riscos, que ela se enleva e se entrega aos ataques da pena.
Que importam todos os sentidos que as palavras têm? A sensualidade da caligrafia apaga todos os sentidos das palavras enquanto me deixo levar quase de olhos fechados por entre os murmúrios que rompem o silêncio da noite. As sílabas colam-se ao papel quase como se tivessem sido derramadas de minha boca. Algumas palavras borram como se fôssem beijos demasiado grandes cujo suco se derrama. Olho para elas com devassidão: minha boca está manchada de tinta azul, estive beijando o céu. O azul do céu se derramou em meu queixo e em meu pescoço, e a luz do sol faminta devora esse azul de todas as formas e com todos os sentidos.
Às vezes sopro as palavras para secá-las mais rápido e então a Natureza grita.
Este vício muitas vezes me leva à exaustão. Sou escravo de meus desejos, como o sou deste vício, desta Musa. Ela não me dá descanso, especialmente quando estou cansado. Ela, a Selvagem Rosa Azul, me arrasta e me esfrega. Ela é uma serpente sobre a pele branca da amante, que se corrompe em listras para receber minhas carícias da maneira que ela quer, da maneira que ela gosta.
Rastejo e rastejo com ela noite após noite, dia após dia. Meu sangue se tornou em tinta, e aqui, onde as aves que trazem os sonhos dormem e despertam, toda a minha perversidade é aceita. Não há desejo secreto ou proibido aqui. Há letras que lutam por seu espaço, mas elas são apenas como pernas de amantes desajeitadas em uma cama cheia de cobertores, que se batem.
Os sonhos me chamam. Eles olham por trás destas letras diretamente em meus olhos, me convidam a deitar as carícias e me perder. Algo nestas letras os atrai, pois vêm como cardumes inteiros para minha rede.
Quando eu me deito, minhas letras dançam ao redor de meu corpo. Quando acordo, os sonhos me provocam e a todo tempo, ó Amante, eu estou pronto!
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