Todo sentimento que se esvai deixa atrás de si um forte rastro de vazio. É difícil acostumar-se a isso. Não há palavras para expressar o que sinto toda vez que algo acaba, um show, uma festa, mesmo um ensaio... Volto à minha vida cotidiana com dificuldade e com um aperto de vazio no coração. Não é que a minha vida seja ruim. Ela é maravilhosa, mas nada nunca dura o tempo suficiente para mim, as experiências sempre me deixam insatisfeito porque terminam muito antes do que eu gostaria. Às vezes penso: as coisas deveriam ser como as antigas orgias e festivais – durar dias, meses até. Tudo em nosso mundo é rápido demais, e mal temos tempo de sentir o que se passou. Preenchemos com significados o enorme espaço vazio entre as coisas, entre os momentos em que vivemos como deuses. Sofremos um excesso de interiorização, mas também não sofrem os que vivem o oposto disto? Yeats dizia que a vida de um camponês é tão cheia de acontecimentos que é demais até mesmo para um grande coração suportar.
No entanto, continuo desejando viver a vida de um deus. Mesmo sendo prisioneiro na cidade, mesmo vivendo em uma época que não é exatamente de ouro, algo dentro de mim ainda insiste em se rebelar contra a realidade. Como meus ancestrais, minha alma guarani insiste em ver este mundo como um inferno que só poderei atravessar dançando e cantando. Carrego comigo este desejo represado para todos os grandes momentos da minha vida. Carrego-o para o palco, para a cama, para cada conversa e cada encontro de olhares, e espero carregá-lo um dia também para o caixão. Não quero desejar menos, ainda que o desejo me faça sofrer.
Sim, nos momentos que nos extraviamos de nossas mesquinhas vidas cotidianas, nós somos deuses. Talvez esses momentos ainda sejam poucos, e talvez um dia seu poder transborde para todos os gestos.
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